O Arcadismo é uma escola literária do século XVIII. Por isso, é também conhecida como Setecentista (anos 1700). Por ser um movimento literário que propõe o retorno ao estilo clássico e à estética renascentista, é também denominado de Neoclassicismo.

O Arcadismo é uma reação contrária ao Barroco porque rompe com a escrita aprimorada e sofisticada, caracterizada por orações na ordem indireta e uso de antíteses. Na literatura árcade, a escrita apresenta uma linguagem simples, que exalta a natureza e retoma aspectos do período clássico.

As principais características do arcadismo são imitação (retorno ao período clássico) e bucolismo (exaltação da natureza). Outras características desse período são: racionalismo e idealização do amor da mulher.

O contexto histórico do Arcadismo é o Século das Luzes, período marcado por:

  • mudanças econômicas, a aristocracia feudal está em decadência e abre espaço para o mercantilismo;
  • transformações políticas, o regime monárquico está desmoralizado e o Estado e a Igreja se separam; e
  • mudanças filosóficas, como o liberalismo e o iluminismo.

Os principais autores do Arcadismo Português são Correia Garção (Obras Poéticas), Nicolau Tolentino (Obras Poéticas I e II) e Manuel Maria Barbosa du Bocage (Rimas).

Os principais poetas do Arcadismo Brasileiro são Cláudio Manuel da Costa (Culto Métrico), Tomás Antônio Gonzaga (Marília de Dirceu) e José de Santa Rita Durão (Caramuru).

Principais características do Arcadismo

As características do Arcadismo são:

Imitação

Consiste na retomada de características clássicas renascentistas. Há o uso de linguagem simples com vocabulário fácil e frases curtas; uso de pseudônimos, ou seja, nomes fictícios; o uso de personagens mitológicos; o uso da estrutura de sonetos, de versos decassílabos, rimas e da poesia lírica, satírica e épica.

Bucolismo

Corresponde à valorização da natureza e da simplicidade. A inspiração poética é reflexo da pureza, da beleza e da espiritualidade que residem na natureza. A poesia bucólica e pastoril traz como cenário a vida campestre (primaveras, pássaros, rios, brisa, pastos, ovelhas, pastores, montes, etc.). É a procura de um locus amoenus (lugar ameno) na tentativa de fugere urbem (fugir da cidade) para carpem diem (aproveitar o dia, o momento presente).

Racionalismo

Expressa as emoções com moderação, sem exageros. A beleza está na racionalidade, no equilíbrio entre a razão e a emoção.

Idealização do amor e da mulher

Retrata o amor de forma prazerosa e não-passional. A mulher é exaltada e cortejada.

Neste poema Convite a Marília, do poeta português Bocage, é possível identificar algumas dessas características.

Já se afastou de nós o Inverno agreste
Envolto nos seus úmidos vapores;
A fértil Primavera, a mãe das flores

O prado ameno de boninas veste:

Varrendo os ares o sutil nordeste
Os torna azuis; as aves de mil cores
Adejam entre Zéfiros, e Amores,
E toma o fresco Tejo a cor celeste:

Vem, ó Marília, vem lograr comigo
Destes alegres campos a beleza,
Destas copadas árvores o abrigo:

Deixa louvar da corte a vã grandeza:
Quanto me agrada mais estar contigo
Notando as perfeições da Natureza!

O poema Convite a Marília apresenta a estrutura de um soneto, com rimas intercaladas, que imitam os poemas clássicos; há a presença de figuras mitológicas; o convite à amada para curtir a beleza, a simplicidade e a tranquilidade da natureza é feito com palavras simples e de fácil entendimento; o cenário da vida campestre retratado revela a apreciação da natureza, o bucolismo.

Contexto histórico do Arcadismo

O termo arcadismo aparece pela primeira vez no romance pastoral Arcádia, publicado em 1504, pelo autor italiano Sannazaro. A obra apresenta uma vida campestre como ideal de felicidade.

O contexto histórico-literário do Arcadismo é o Século XVIII, o Século das Luzes, marcado por transformações sociais, econômicas, políticas e filosóficas. A aristocracia feudal está em decadência, surge o mercantilismo e a burguesia, o regime monárquico está em descrédito e o Estado e a Igreja se separam.

Essas mudanças são influenciadas por ideias de cientistas e de filósofos iluministas que provocam uma revolução na história do pensamento moderno.

Os iluministas defendem o direito à propriedade, os direitos civis e a igualdade de oportunidades para todos cidadãos (liberalismo) e são adeptos do laicismo (Estado e Igrejas independentes entre si) e do empirismo (sistematização do conhecimento humano por meio de experimentos).

Esse movimento recebeu o nome de Iluminismo. Por isso, a época foi denominada de Século das Luzes. É caracterizado pelo racionalismo, pela valorização do conhecimento, da ciência e da filosofia. A razão é o único caminho para a evolução do homem.

Arcadismo em Portugal (1756 a 1825)

O Arcadismo português acontece entre 1756 e 1825, em paralelo ao reinado de D. João V. A primeira metade do Século das Luzes caracteriza-se pela manutenção dos poderes da Inquisição e dos valores tradicionais da monarquia absoluta. Os primeiros sintomas da Era das Luzes aparecem com Marquês de Pombal, o “déspota esclarecido”, que procura alinhar Portugal com as ideias iluministas.

Os principais poetas e suas principais obras da estética árcade portuguesa são Correia Garção, Nicolau Tolentino e Manuel Maria Barbosa du Bocage.

Correia Garção, autor de Obras Poéticas (1778), foi muito influente no arcadismo portuguesa por restabelecer as formas clássicas de expressão, a imitação.

Nicolau Tolentino escreveu Obras Poéticas vol. I e II (1801) e Obras Póstumas (1828) e destacou-se como autor satírico da sociedade portuguesa.

Manuel Maria Barbosa du Bocage, autor de Rimas (1804), é um dos mais importantes poetas do arcadismo português. Os poemas de Bocage são predominantemente bucólicos e pastoris e com presença da mitologia clássica.

Arcadismo no Brasil (1768 a 1836)

O Arcadismo brasileiro ocorre de 1768 a 1836. Com a descoberta do ouro nas Minas Gerais, o centro econômico muda do Nordeste para a região de Vila Rica (atual Ouro Preto) e Rio de Janeiro.

Intelectuais brasileiros, que estudaram em Coimbra na época da colônia portuguesa, trazem para o Brasil as ideias liberais e iluministas.

Isso faz com que poetas árcades brasileiros estejam mais comprometidos com os ideais do Século das Luzes e, consequentemente, despertem o olhar para a formação de uma consciência nacional que mais tarde seria uma das temáticas do Romantismo literário.

Os principais poetas árcades brasileiros são Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e José de Santa Rita Durão.

Cláudio Manuel da Costa usava o pseudônimo de Glauceste Satúrnio. Suas publicações principais são Culto Métrico (1749), Munúsculo Métrico (1751) e Labirinto de Amor (1753).

Tomás Antônio Gonzaga assinava os poemas como Dirceu. É autor de Marília de Dirceu (1792) e Cartas Chilenas (1863)

José de Santa Rita Durão escreveu Caramuru (1781), famoso poema épico que exalta terras brasileiras.

No final do Século XVIII, a poesia árcade assume um tom confessional, um tom mais pessoal e emocional. Essas características sinalizam para uma visão pré-romântica e anunciam a chegada do Romantismo.

Referências
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1970.
CARPEAUX, Otto Maria. História da literatura ocidental. 4.ed. Brasília: Senado Federal, 2011.
MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos textos. 3. ed. São Paulo: Cultrix, 1970.

Beatriz Santana
Beatriz Santana
Entre um brincar de giz na lousa da escola e a cartilha Caminho Suave, sonhei ser professora. Sou licenciada em Letras e a maior parte da minha vida profissional foi dedicada a formação de professores. Ensinar exige um aprender constante. Por isso, sigo aprendendo e ensinando, ensinando e aprendendo para além dos muros de uma escola. Adoro peças de teatro, shows e arte em geral.