O Romantismo foi um movimento artístico que surgiu na Europa no final do século XVIII. Enquanto movimento literário, o Romantismo privilegiava a emoção e a imaginação, em oposição à razão e às regras. Havendo a valorização do eu, os autores românticos escreviam sobre seus sentimentos e estados de alma.

O marco inicial do Romantismo na Europa ocorre com a publicação do livro Os Sofrimentos do Jovem Werther, em 1774, do autor alemão Goethe.

Características do Romantismo

O Romantismo veio romper com as barreiras do movimento artístico e literário anterior - o Arcadismo - que buscava reavivar a cultura greco-latina e tinha como características o racionalismo, o universalismo, o objetivismo e o bucolismo.

Assim, as características do Romantismo são:

Sentimentalismo Os escritores românticos se focavam muito em emoções e sentimentos, desprezando a razão.
Imaginação Visando se distanciar do modelo objetivista, racional e técnico do movimento literário anterior, para os escritores românticos era muito importante imaginar e ser criativo. Para tal, usavam frequentemente o verso livre ou o verso branco nas suas poesias.
Individualismo O pensar sobre si mesmo (pensar para dentro) indica o forte individualismo e egocentrismo dos autores românticos.
Nacionalismo Um forte sentimento nacionalista imperava nesse período histórico. Os autores escreviam suas obras motivados pelo ideal nacionalista de delinear uma literatura verdadeiramente brasileira, com a valorização da sua cultura popular.
Herói romântico Os ideais românticos são personificados na figura do herói. No Brasil, esse herói romântico é o índio, que conhece, defende e vive em perfeita comunhão com a natureza.
Culto da natureza Os autores românticos buscavam exaltar a perfeição da natureza verdadeira. Diferente do movimento literário anterior, no qual a natureza era vista como pano de fundo para o amor.
Exaltação da mulher Os escritores idealizavam a mulher romântica como sendo perfeita, pura e angelical.

Contexto histórico do Romantismo

O Romantismo surgiu num contexto histórico de insatisfação e descontentamento do povo, com consequente luta por novos ideais.

Por toda a Europa e pelas colônias, houve a difusão dos ideais iluministas e a instituição dos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade, decorrentes da Revolução Francesa. Após a Independência dos Estados Unidos e com a vinda da família real portuguesa para o Brasil em 1808, iniciou-se também o processo de desenvolvimento e independência do nosso país, que ocorreu em 1822.

A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra, proporcionou a industrialização dos processos e dos grandes centros. Isso permitiu a reestruturação das classes sociais, com consequente ascensão da burguesia, e o desenvolvimento da tipografia, que permitiu a realização de impressões de jornais e romances em maiores quantidades.

Romantismo no Brasil

A produção romântica no Brasil foi rica e diversificada. Com a criação da Imprensa Régia e a fundação de bibliotecas públicas, a imprensa brasileira ganhou impulso e surgiu na sociedade um forte desejo de estabelecer uma identidade nacional literária própria para o país.

No Brasil, a primeira manifestação do Romantismo ocorreu na primeira metade do século XIX, com a publicação da obra Suspiros Poéticos e Saudades de Gonçalves de Magalhães, em 1836.

A voz da minha alma

Quando da noite o véu caliginoso
Do mundo me separa,
E da terra os limites encobrindo,
Vagar deixa minha alma no infinito,
Como um subtil vapor no aéreo espaço,
Uma angélica voz misteriosa
Em torno de mim soa,
Como o som de uma frauta harmoniosa,
Que em sagradas abóbadas reboa.

(Gonçalves de Magalhães, Suspiros Poéticos e Saudades)

Gerações do Romantismo no Brasil

No Brasil, a produção literária dos autores românticos está dividida em três gerações.

Primeira geração do Romantismo - Indianismo

Decorrida entre 1836 e 1852, a primeira geração do Romantismo no Brasil ficou conhecida como a geração indianista, que exaltava o índio como o herói nacional do país e a geração nacionalista, que visava a construção de uma identidade nacional para o Brasil.

Características da primeira geração romântica

  • Construção de uma identidade nacional;
  • Nacionalismo e anticolonialismo;
  • Regionalismo e cultura popular;
  • Figura do índio como herói nacional;
  • Crítica aos modelos clássicos;
  • Presença da religiosidade.

Autores e obras da primeira geração romântica

Autores Obras
Gonçalves de Magalhães Suspiros Poéticos e Saudades (1836)
Confederação dos Tamoios (1856)
Gonçalves Dias Canção do Exílio (1843)
I-Juca-Pirama (1851)
Manuel de Araújo Porto-Alegre Brasilianas (1863)
Colombo (1866)
José de Alencar O Guarani (1857)
Iracema (1865)
Ubirajara (1874)
Joaquim Manoel de Macedo Moreninha (1844)
O Moço Louro (1845)
Os Dois Amores (1848)
Manuel Antônio de Almeida Memórias de um Sargento de Milícias (1952)

Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
[…]

(Gonçalves Dias)

Iracema

“Iracema parou em face do jovem guerreiro:
— E a presença de Iracema que perturba a serenidade no rosto do estrangeiro?
Martim pousou brandos olhos na face da virgem:
— Não, filha de Araquém: tua presença alegra, como a luz da manhã. Foi a lembrança da pátria que trouxe a saudade ao coração pressago.”

(José de Alencar)

Segunda geração do Romantismo - Ultrarromantismo

Decorrida entre 1853 e 1869, a segunda geração do Romantismo no Brasil ficou conhecida como a geração do mal do século, marcada pelo pessimismo e pelo sofrimento decorrentes da tuberculose. Ficou também conhecida como a geração ultrarromântica, por acentuar os ideais românticos de sentimentalismo, ou a geração byroniana, por se inspirar no escritor britânico Lord Byron.

Características da segunda geração romântica

  • Egocentrismo e individualismo;
  • Subjetivismo e sentimentalismo;
  • Saudade e nostalgia;
  • Sofrimento por amor;
  • Tédio e à fuga da realidade;
  • Negativismo e desilusão;
  • Morte e melancolia.

Autores e obras da segunda geração romântica

Autores Obras
Álvares de Azevedo Poesias (1853)
Lira dos Vinte Anos (1853)
Noite na Taverna (1855)
Casimiro de Abreu Meus Oito Anos (1857)
As Primaveras (1859)
Fagundes Varela Noturnas (1861)
Cântico do Calvário (1863)
Junqueira Freire Inspirações do Claustro (1855)
Contradições Poéticas (1855)

Meus Oito Anos

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida,
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
[…]

(Casimiro de Abreu)

Se Eu Morresse Amanhã

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã,
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!
[…]

(Álvares de Azevedo)

Terceira geração do Romantismo - Condoreirismo

Decorrida entre 1870 e 1880, a terceira geração do Romantismo no Brasil ficou conhecida como a geração condoreira, por inspiração na ave de rapina sul-americana condor, que representa a liberdade. Ficou também conhecida como a geração hugoana, inspirada no escritor francês Victor Hugo.

Características da terceira geração romântica

  • Construção de uma poesia social;
  • Foco nos problemas políticos e sociais;
  • Luta pela abolição da escravatura;
  • Oposição à escravidão e à opressão;
  • Defesa de um governo republicano;
  • Ideais de justiça, igualdade e liberdade;
  • Erotismo, pecado e negação do amor platônico.

Autores e obras da terceira geração romântica

Autores Obras
Castro Alves O Navio Negreiro (1869)
Espumas Flutuantes (1870)
Os Escravos (1883)
Joaquim de Sousa Andrade (Sousândrade) O Guesa (1871)
Harpas Selvagens (1857)
Joaquim Nabuco de Araújo O Abolicionismo (1883)
Escravos (1886)

O Navio Negreiro

[...]
Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto!...

Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!

(Castro Alves)

Fim do Romantismo no Brasil

O fim do Romantismo no Brasil teve como marco a publicação do romance realista Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis, em 1881.

Flávia Neves
Flávia Neves
Professora de português, revisora e lexicógrafa nascida no Rio de Janeiro e licenciada pela Escola Superior de Educação do Porto, em Portugal (2005). Atua nas áreas da Didática e da Pedagogia.