O texto dissertativo-argumentativo é um tipo de texto que busca persuadir e convencer o leitor a concordar com um ponto de vista (a tese defendida).
Nesse texto, é expressa uma opinião crítica sobre um assunto, sendo defendida uma tese por meio de uma argumentação clara e objetiva, fundamentada em fatos verídicos e dados concretos.
Estrutura do texto dissertativo-argumentativo
O texto dissertativo-argumentativo é uma exigência frequente em vestibulares, concursos e no meio universitário. Sua tese é apresentada e defendida seguindo a estrutura típica de introdução, desenvolvimento e conclusão. Veja como fazer cada parte com exemplos.
Introdução
Na introdução, apresentamos o assunto e a tese que será defendida sobre ele. Identificamos um problema, mostrando a tese de forma clara e objetiva. É crucial que a tese seja bem definida e delimitada. A reflexão crítica e a argumentação acontecem no desenvolvimento do texto.
Exemplo de introdução de uma redação do Enem
Na obra “Utopia”, de Thomas More, é retratada uma sociedade perfeita e em harmonia, a qual é livre de conflitos e mazelas. Todavia, fora de ficção, a realidade contemporânea está distante disso, haja vista os desafios para enfrentar a invisibilidade do trabalho de cuidado exercido pela mulher no Brasil. Por certo, a negligência governamental e a desigualdade social são fatores que favorecem esse quadro.
(Trecho da redação nota mil de Heloísa Vitória no Enem 2023. Tema: Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil. Fonte: G1.)
Desenvolvimento
No desenvolvimento, exploramos os argumentos que sustentam a tese. Isso pode incluir identificar causas e consequências do problema, avaliar aspectos positivos e negativos, ou rebater argumentos contrários.
Podemos focar no argumento que justifica a tese ou na própria tese. O que importa é usar uma linguagem coerente, objetiva e precisa.
A apresentação dos argumentos deve seguir uma sequência lógica. Pode haver um argumento principal e argumentos auxiliares ou vários argumentos fortes. O mais importante é que estes sejam objetivos e detalhados, e que haja conexão entre eles.
Os diversos argumentos precisam ser sustentados com exemplos e provas que os validem, tornando-os indiscutíveis, como:
- fatos comprovados;
- conhecimentos consensuais;
- dados estatísticos;
- pesquisas e estudos;
- citações de autores renomados;
- depoimentos de personalidades renomadas;
- referências históricas;
- fatores sociais, culturais e econômicos.
Essas estratégias argumentativas validam os argumentos, dotando-os de autoridade, consenso, lógica, competência e veridicidade. Assim, os leitores não só refletem sobre isso, como ficam obrigados a concordar com os argumentos, sem hipótese de os rebater.
Além disso, diversos recursos de linguagem podem ser usados para captar a atenção do leitor e convencê-lo da correção da tese, como o uso de uma linguagem formal, de perguntas retóricas, de repetições, de ironia ou de exclamações.
Exemplo de desenvolvimento de uma redação do Enem
Percebe-se, a princípio, que o descaso estatal possui íntima relação com o revés. Nessa ótica, de acordo com o filósofo John Locke, configura-se como um rompimento do Contrato Social, já que o Estado não cumpre com sua função de garantir que todos desfrutem de seus direitos. Assim, devido à débil ação do Poder Público e à insuficiência de legislações, os impasses para acabar com a invisibilidade vivenciada por aquelas que realizam o trabalho de cuidadoras, sejam elas babás, donas de casa ou empregadas domésticas, têm crescido cada vez mais no Brasil. Dessa forma, é inadmissível que esse cenário continue a perdurar.
(Trecho da redação nota mil de Heloísa Vitória no Enem 2023. Fonte: G1.)
Conclusão
Na conclusão, reafirmamos a tese inicial, já defendida pelos argumentos feitos no desenvolvimento. Podem ser apresentadas soluções viáveis ou propostas de intervenção. É um desfecho natural, já que o leitor foi conduzido para isso ao longo do texto.
Exemplo de conclusão de uma redação do Enem
Infere-se, portanto, a necessidade de combater essa problemática no Brasil. Logo, cabe ao Governo, como Ministério do Trabalho, desenvolver leis mais rígidas e projetos sociais, por meio de petições e da criação da campanha “Cuidar também é trabalhar”, a fim de vencer os impasses enfrentados pelas cidadãs que exercem a função de cuidadoras e garantir que passem a ser enxergadas e não sofram mais com a invisibilidade e a desvalorização. Por conseguinte, uma sociedade mais próxima da que é citada em “Utopia” será consolidada.
(Trecho da redação nota mil de Heloísa Vitória no Enem 2023. Fonte: G1.)
Exemplo de texto dissertativo-argumentativo
Agora, veja um modelo de texto dissertativo-argumentativo.
Tema: redução da maioridade penal no Brasil.
Autor: Eduardo Sampaio
Não é de hoje que a sociedade brasileira sofre com os tormentos ocasionados pela disseminação da violência. Esse fato estarrecedor gera debates e mais debates, na tentativa de sanar, ou ao menos coibir, os sérios impactos sociais que as ações violentas representam para a coletividade. Para esse fim, seria a redução da maioridade penal um componente de primeira grandeza?
Constata-se que o envolvimento de jovens infratores em graves delitos pode não ser uma exclusividade dos tempos modernos; no entanto, é inegável o aumento de casos envolvendo crianças e adolescentes em situações deploráveis, como furtos, roubos e, em muitos contextos, homicídios.
Com esse cenário, parece irrefutável a tese que defende o declínio de dois anos nas contas da maioridade penal. Para os mais inconformados com a realidade, aqueles tomados pelo afã do “justiceiro implacável”, não parecem existir outras saídas. Todavia, nem sempre o que se revela aparentemente óbvio o é. Há fatores envolvidos nas estatísticas da criminalidade covardemente camuflados por alguns setores governamentais, bem como por áreas específicas da sociedade civil.
Se reduzir a idade mínima penal tivesse consequências positivas imediatas para a diminuição dos índices criminais, essa certamente já seria uma medida adotada por todas as nações. Fatores bem mais importantes como priorização efetiva dos investimentos em educação e cultura, bem como distribuição de emprego e renda, inserindo o jovem no universo acadêmico ou técnico, indubitavelmente aplacariam com mais rapidez e eficácia os deploráveis números.
A participação de menores infratores em crimes hediondos não deve ser ignorada, é inegável; diminuir a idade base para a criminalização de seus atos pode ser uma saída, mas necessita, ainda, de discussões e argumentos mais convincentes. De concreto, fica a certeza de que só um programa capaz de incluir crianças, adolescentes e jovens nos interesses mais prioritários do país terá a força suficiente para contornar quadro tão desfavorável.
Veja também: