Embora frequentes no dia a dia dos falantes, os vícios de linguagem são desvios gramaticais, ou seja, palavras, expressões e construções que fogem às regras da norma padrão ou norma culta. Os vícios de linguagem ocorrem, normalmente, por falta de atenção e pouco conhecimento dos significados das palavras pelos falantes.

Confira alguns vícios de linguagem:

Barbarismo

Erros de pronúncia, acentuação, ortografia, flexão e significação são considerados barbarismo.

Erros de pronúncia:

  • pograma (correto = programa)
  • reintero (correto = reitero)
  • beneficiente (correto = beneficente)

Erros de acentuação:

  • rúbrica (correto = rubrica)
  • gratuíto (correto = gratuito)
  • púdico (correto = pudico)

Erros de ortografia:

  • mecher (correto = mexer)
  • quizeram (correto = quiseram)
  • geito (correto = jeito)

Erros de flexão:

  • deteu (correto = deteve)
  • proporam (correto = propuseram)
  • cidadões (correto = cidadãos)

Erros de significação:

  • meus comprimentos (correto = meus cumprimentos)
  • o conserto da Rita Lee (correto = o concerto da Rita Lee)
  • o acento da bicicleta (correto = o assento da bicicleta)

Solecismo

Erros de sintaxe (concordância, regência e colocação pronominal) são considerados solecismo.

Erros de concordância:

  • a gente vamos (correto = a gente vai)
  • fazem dois dias (correto = faz dois dias)
  • haviam muitas vagas (correto = havia muitas vagas)

Erros de regência:

  • chegamos no colégio (correto = chegamos ao colégio)
  • sempre obedeci meu pai (correto = sempre obedeci ao meu pai)
  • vamos na praia (correto = vamos à praia)

Erro de colocação pronominal:

  • não enganei-me (correto = não me enganei)
  • foi ela que chamou-me (correto = foi ela que me chamou)
  • compraremos-te um carro (correto = comprar-te-emos um carro)

Pleonasmo vicioso ou redundância

Ocorre pleonasmo vicioso ou redundância quando há uma repetição de ideias desnecessária para a transmissão do conteúdo da frase.

Exemplos:

  • Vamos entrar para dentro.
  • Vamos adiar para depois.
  • Vamos encarar de frente.

Ambiguidade ou anfibologia

Nas frases sem clareza ou com duplo sentido ocorre ambiguidade ou anfibologia.

Exemplos:

  • A professora levou o aluno para sua sala. (de quem é a sala?)
  • Paula conversou com Helena sobre seu trabalho. (de quem é o trabalho?)
  • A cachorra da sua prima é mal-humorada. (a prima é uma cachorra ou tem uma cachorra?)

Cacofonia ou cacófato

Ocorre cacofonia ou cacófato quando a pronúncia de palavras seguidas produz um som desagradável ou sugere outra palavra menos apropriada.

Exemplos:

  • Eu beijei a boca dela.
  • Eu não vi ela.
  • Me dá uma mão.

Eco

Dissonâncias causadas por terminações iguais nas palavras são consideradas eco.

Exemplos:

  • Tem gente que, por mais que tente, não consegue ser diferente.
  • Nesta cidade não há honestidade, apenas vaidade.

Hiato

Dissonâncias causadas por sequências de vogais idênticas ou semelhantes são consideradas hiato.

Exemplos:

  • Ana a ama muito.
  • Ou eu ou ele estaremos lá.

Colisão

Dissonâncias causadas por sequências de consoantes idênticas ou semelhantes são consideradas colisão.

Exemplo:

  • Essa saia suja é da Sara.
  • Fazendo fiado fico freguês.

Vulgarismo

O uso de expressões que não se enquadram no padrão culto é considerado vulgarismo.

Vulgarismo fonético:

  • Vamo brincá? (correto = Vamos brincar?)
  • Brincadera boba! (correto = Brincadeira boba!)
  • Põe mais sau, por favor. (correto = Põe mais sal, por favor.)

Vulgarismo morfológico e sintático:

  • Custa cinco real! (correto = Custa cinco reais!)
  • Os menino vem aí. (correto = Os meninos vêm aí.)
  • Eu vi ele na rua. (correto = Eu vi-o na rua.)

Plebeísmo

Refere-se a gírias, calão e expressões populares que indicam falta de instrução e erudição.

Exemplos:

  • Fala mané!
  • Fiquei bolado com essa parada.

Nota: Também a utilização de chavões é considerada por muitos autores como vício de linguagem, por empobrecer o discurso e limitar a autonomia do pensamento humano.

Exemplos:

  • A união faz a força.
  • Cada macaco no seu galho.

Estrangeirismo

Considerado por alguns autores como barbarismo, o estrangeirismo consiste no uso exagerado e desnecessário de palavras de outros idiomas em vez das formas equivalentes em português.

Exemplos:

  • show (em português = espetáculo)
  • drink (em português = bebida ou drinque)
  • delivery (em português = entrega em domicílio)

Neologismo

Consiste na criação exagerada de novas palavras, muitas vezes desnecessárias, por já haver palavras análogas no português.

Exemplos:

  • Já chega de tuitar.
  • Deleta essa informação, por favor.
  • Manjo bem esse assunto.

Arcaísmo

Refere-se à utilização de palavras ou expressões em desuso.

Exemplos:

  • Venha, menina, asinha!
  • Vosmecê precisa de ajuda?

Preciosismo e prolixidade

Referem-se a uma linguagem exacerbada para referir ideias normais, bem como ao excesso de palavras para transmitir ideias simples, prejudicando a clareza e naturalidade do discurso.

Exemplos:

  • Minha progenitora, transtornada com meu insubmisso agir, procrastinou nossa viagem intercontinental.
  • Estivesse eu rejubilante e álacre em vez de apreensiva e inconformada com as vicissitudes de meu viver.

Fique sabendo mais!

Existem ainda outros vícios de linguagem como: gerundismo (uso excessivo e desnecessário do gerúndio), queísmo (uso excessivo e desnecessário do pronome que) e paraquema (sílaba final e inicial iguais em palavras seguidas – uma marca), entre outros.

Flávia Neves
Flávia Neves
Professora de português, revisora e lexicógrafa nascida no Rio de Janeiro e licenciada pela Escola Superior de Educação do Porto, em Portugal (2005). Atua nas áreas da Didática e da Pedagogia.