A estrutura externa de um poema se refere aos seus aspectos formais. Numa análise formal, os poemas são analisados quanto ao número de estrofes, número de versos por estrofe, esquema rimático em cada estrofe, métrica dominante e tipo de rima existente.
A poesia, por oposição à prosa, é escrita em verso. Cada linha do poema é chamada de verso. Um conjunto de versos, separado de outro conjunto de versos por uma linha branca, é chamado de estrofe.
Versos e estrofes
Os poemas podem possuir desde um a vários versos, bem como desde uma a diversas estrofes. Embora haja poemas de estruturas fixas, a maioria dos poetas atuais opta pela liberdade na criação da estrutura do poema.
Classificação de estrofes quanto ao número de versos
- monóstico - estrofe com um verso;
- dístico - estrofe com dois versos;
- terceto - estrofe com três versos;
- quadra ou quarteto - estrofe com quatro versos;
- quintilha - estrofe com cinco versos;
- sextilha - estrofe com seis versos;
- septilha - estrofe com sete versos;
- oitava - estrofe com oito versos;
- nona - estrofe com nove versos;
- décima - estrofe com dez versos;
- estrofe irregular - estrofe com mais de dez versos.
Exemplo de uma quadra:
“Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!”
(Mário Quintana)
Exemplo de uma sextilha:
“Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!”
(Castro Alves)
Poemas com estrutura fixa
- Soneto: formado por 14 versos (duas quadras e dois tercetos).
- Balada: formada por três oitavas (ou décimas) e uma quadra (ou quintilha).
- Trova: formada por apenas uma quadra (em redondilha maior).
- Sextina: formada por seis sextilhas e um terceto.
- Rondó: formado por uma quintilha, um terceto e outra quintilha.
- Rondel: formado por duas quadras e uma quintilha.
- Haicai: formado por um terceto.
Exemplo de um soneto:
“Eu faço versos como os saltimbancos
Desconjuntam os ossos doloridos
A entrada é livre para os conhecidos...
Sentai, Amadas, nos primeiros bancos!
Vão começar as convulsões e arrancos
Sobre os velhos tapetes estendidos...
Olhai o coração que, entre gemidos,
Giro na ponta dos meus dedos brancos.
“Meu Deus! Mas tu não mudas o programa!”
- Protesta a clara voz das Bem-Amadas –
“Que tédio!” – o coro dos Amigos clama.
“Mas que vos dar de novo e de imprevisto?”
- Digo... e retorço as pobres mãos cansadas:
“Eu sei chorar... Eu sei sofrer... Só isto!”
(Mário Quintana)
Exemplo de um haicai:
“Tudo dito,
Nada feito,
Fito e deito.”
(Paulo Leminski)
Sílabas métricas
A divisão de um verso em sílabas métricas é chamada de escansão. As sílabas métricas são as sílabas existentes num determinado verso.
Como se contam as sílabas de um verso?
O verso é considerado na sua totalidade, como se fosse apenas uma palavra. As sílabas métricas diferem das sílabas gramaticais.
A contagem das sílabas existentes num verso é feita apenas até à sílaba tônica da última palavra do verso e, além disso, duas ou mais vogais no fim de uma palavra e no início de outra pertencerão à mesma sílaba.
“Da aurora da minha vida” (Casimiro de Abreu)
(Da au / ro / ra / da / mi / nha / vi da)
Sete sílabas métricas: heptassílabo ou redondilha maior
“E, se mais mundo houvera, lá chegara.” (Luís de Camões)
(E / se / mais / mun / do hou / ve / ra / lá / che / ga ra)
Dez sílabas métricas: decassílabo
Classificação de versos quanto ao número de sílabas métricas
- monossílabo - verso com uma sílaba;
- dissílabo - verso com duas sílabas;
- trissílabo - verso com três sílabas;
- tetrassílabo - verso com quatro sílabas;
- pentassílabo ou de redondilha menor - verso com cinco sílabas;
- hexassílabo ou heroico quebrado - verso com seis sílabas;
- heptassílabo ou de redondilha maior - verso com sete sílabas;
- octossílabo - verso com oito sílabas;
- eneassílabo - verso com nove sílabas;
- decassílabo - verso com dez sílabas;
- hendecassílabo - verso com onze sílabas;
- dodecassílabo ou alexandrino - verso com doze sílabas;
- verso bárbaro - verso com mais de doze sílabas;
- verso livre – não possui uma medida padronizada.
Rima e esquema rimático
Na poesia, as rimas se caracterizam pela repetição de sons no final de dois ou mais versos, conferindo musicalidade ao poema. A classificação de rimas poderá ser feita quanto à fonética, quanto ao valor, quanto à acentuação e quanto à posição no verso e na estrofe. O esquema rimático é obtido através da posição das rimas nos versos e nas estrofes.
Classificação de rimas quanto à fonética
- rima perfeita ou rima consoante: pedido/querido
- rima imperfeita ou rima toante (assonante): lata/cada
- rima imperfeita ou rima aliterante: meta/mato
Classificação de rimas quanto ao valor
- rima pobre: estudar/começar
- rima rica: papel/cruel
- rima rara ou preciosa: estrelas/vê-las
Classificação de rimas quanto à acentuação
- rima aguda ou masculina: ilusão/emoção
- rima grave ou feminina: antigos/abrigos
- rima esdrúxula: informática/didática
Classificação de rimas quanto à posição no verso
- rima final ou externa: eu só sentia alegria / ela nem sequer sorria
- rima interna ou coroada: a vela acesa na sala / a bela tristeza do ser
Classificação de rimas quanto à posição na estrofe
- rimas alternadas ou cruzadas: esquema rimático ABAB.
- rimas emparelhadas ou paralelas: esquema rimático AABBCC.
- rimas opostas, interpoladas ou intercaladas: esquema rimático ABBA.
- rimas encadeadas: esquema rimático ABA BCB CDC.
- rimas misturadas ou mistas: sem esquema rimático fixo.
- versos brancos ou soltos: não rimam com nenhum outro.
Exemplos de classificação de rimas
“E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.”
(Olavo Bilac)
Esquema rimático: ABAB – rimas alternadas ou cruzadas.
Enquanto/pranto: rimas externas, graves, consoantes e ricas.
Aberto/deserto: rimas externas, graves, consoantes e pobres.
Encontre mais exemplos e explicações em Classificação de rimas e Palavras que rimam.
Estrutura interna do poema e linguagem poética
Além da estrutura formal, a análise de um texto poético deverá englobar também a análise do conteúdo e da estrutura interna do poema, sendo identificado o tema e o assunto do poema, bem como subdivisões e formas de organização das ideias.
Relativamente à linguagem poética, deverão ser identificados os aspectos linguísticos utilizados, como o tipo de linguagem, o tipo de discurso e as figuras de linguagem, devendo ser referido o contributo desses recursos e elementos para a expressividade do poema.
Poderá ainda contemplar uma opinião fundamentada sobre o poema, referindo características do autor e do contexto social e literário existente aquando da criação do texto poético.
Referências bibliográficas:
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 38. ed. Rio de Janeiro: Lucerna e Nova Fronteira, 2015.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática de Língua Portuguesa. 48. ed. Companhia Editora Nacional, 2010.
CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Breve Gramática do Português Contemporâneo. 9. ed. Lisboa: João Sá da Costa, 1996.
LIMA, Rocha. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 49. ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 2011.